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Fatores na cultura empresarial que podem definir o sucesso da empresa familiar
No Brasil empreender é uma atividade bastante característica. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), 90% das empresas brasileiras são familiares e empregam 75% dos trabalhadores do país.
No Brasil empreender é uma atividade bastante característica. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), 90% das empresas brasileiras são familiares e empregam 75% dos trabalhadores do país.
Empresas familiares não são apenas pequenos empreendimentos. Gigantes brasileiras como o Itaú Unibanco, J&F Investimentos (JBS), Votorantim, BRF (Sadia & Perdigão), e as grandes da construção civil surgiram dos esforços de uma família empreendedora e cresceram com a sucessão de herdeiros no quadro diretivo.
Para a maioria dos negócios no Brasil, a história de sucesso difere muito daquelas grandes holdings familiares. Levantamento recente da PwC Consultoria mostra que somente 7 em cada 100 empresas chegam até a terceira geração de familiares e 75% dos empreendimentos são encerrados após a sucessão para os herdeiros.
Luciano Figueira, especialista em gestão e estratégia empresarial da Assertia, pontua que é importante que os gestores de empresas familiares estejam atentos aos problemas mais comuns que afetam este tipo de negócio.
Desafios das empresas familiares
Segundo Luciano, cada empresa familiar tem sua própria história, mas há desafios que todas enfrentam. Pesquisas recentes sugerem que parte das dificuldades das empresas familiares está no campo da gestão.
“Problemas surgem com uma governança enfraquecida, reflexo da presença de gestores com perfis menos diversificados do que as empresas não familiares. Os fundadores, procurando evitar conflitos na família, acabam adiando ou evitando o planejamento para sucessão e, como consequência, membros da geração seguinte podem apresentar falta de perícia ou se veem forçados a administrar o negócio sem que o desejem”, argumenta.
O especialista acrescenta que o próprio surgimento das empresas no Brasil é complicado, pois de maneira majoritária, os negócios são abertos pela necessidade de sustento das famílias e não pela oportunidade de ganho ou crescimento em escala. O chamado “empreendedorismo por necessidade”, que é um reflexo social e da cultura brasileira, acaba explicando tantos negócios fechados em um curto período.
Figueira afirma, ainda, que muitas vezes os conflitos de interesse entre os parentes acabam sendo trazidos para dentro do ambiente de negócio, o que corresponde a outro fator importante para que surjam dificuldades.
“No contexto das pequenas empresas, o lucro será sempre revertido ao sustento da família, por exemplo. Os conflitos começam a surgir quando a empresa cresce, elevando também a demanda por qualidade de vida e conforto da família que depende daquele negócio. É preciso maturidade e visão de longo prazo para discernir entre o papel de empresário e do empreendedor que visa fazer a empresa se perpetuar”, diz.
Dicas
Para o especialista em gestão e estratégia empresarial a prosperidade da empresa familiar precisa ser um objetivo compartilhado por todos os envolvidos diretamente com o negócio. Além disso, ele pontua que valores como profissionalismo, liderança e respeito devem ser guias do empreendimento. Luciano elenca, ainda, algumas dicas importantes para que os negócios familiares não saiam dos eixos:
Preocupação com a governança: um número cada vez maior de empresas tem aprimorado sua governança, estabelecendo a separação entre a propriedade familiar e a gestão, e colocando em prática iniciativas que garantam reduzir falhas da estratégia e do monitoramento do negócio, favorecendo o encontro de respostas rápidas aos anseios dos dirigentes;
Critérios de contratação e sucessão: é preciso que o membro da família somente permaneça na gestão enquanto demonstrar competência comprovada e, ainda mais importante, caso ele deseje. Não é raro encontrar herdeiros frustrados por serem forçados a trabalhar em algo que não dá propósito. Nesses casos, é recomendável que ele seja preparado a acompanhar aspectos da estratégia do negócio e ter voz ativa num conselho de gestão ou de família;
Papel do fundador: notadamente em um pequeno negócio, o empresário familiar o inicia sozinho, condição que pode ter sido útil ao rápido crescimento, mas que invariavelmente dificulta a profissionalização da empresa. O ritmo de mudança acaba não favorecendo um processo de planejamento compartilhado e, com o tempo, os profissionais que o cercam, familiares ou não, vão se acostumando a não pensarem estrategicamente. No caso de uma pequena empresa, é recomendável que o empresário busque apoio de ao menos um mentor, capaz de lhe oferecer feedback franco e desafiá-lo a elevar o padrão de performance;
Hierarquia familiar X hierarquia empresarial: propõe-se a elaboração de um protocolo familiar, muito comum em grandes famílias empresárias, mas também útil no contexto de um pequeno negócio, que retrata as regras de convivência entre a família e a empresa e também seus participantes dirigentes;
Respeito aos valores: muito tem se falado sobre a importância de manter colaboradores engajados. Tão importante quanto um propósito transformador, que explique o papel da empresa no mercado, os valores de uma empresa familiar devem refletir aos colaboradores, verdadeiramente, como o empresário e sua família se relacionam com o mundo. Valer-se dos bons resultados que o engajamento propicia implica em conceder mérito às decisões alinhadas aos valores;
“Essa mistura de valores claros, transparência e boa governança, resultará numa cultura forte o bastante para aumentar o nível de confiança e autonomia nos colaboradores e, consequentemente, o crescimento do negócio familiar”, finaliza Luciano Figueira.