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Empreendedores estão brincando com fogo?
O que não é dito nos manuais de sucesso
Com o aumento do interesse pelo empreendedorismo e pelo modelo de negócio das startups, não há uma semana sequer que não se leia ou se discuta sobre as características em comum entre os empreendedores de sucesso. A fórmula parece insuperável, o sucesso garantido. No entanto, a realidade não é tão simplista assim. O que pouco se fala é o preço psicológico do empreendedorismo, que pode ser caro e brutal.
Falhar pode ser algo natural, mas não para quem é treinado apenas para vencer, e esse pode ser um perigoso erro. Empreender não tem a ver apenas com o lado bom dos negócios. A importância de desenvolver uma estrutura emocional para transpor as dificuldades impostas neste percurso parece ser ignorada no manual do "sucesso".
O economista e mestre em psicologia da educação, Richard Rytenband explica que essa falta de transparência ao tratar sobre o assunto pode desencadear o chamado viés heurístico da representatividade, tratado no ramo das finanças comportamentais. Este viés se refere ao julgamento baseado em estereótipos, em que não se avalia a representatividade do tamanho da amostra. Em outras palavras, as pessoas julgam os eventos pela sua aparência e semelhança, não pela probabilidade deles realmente acontecerem.
"Ao se deparar com uma listagem de casos de sucesso, e os pontos em comuns entre eles, um jovem julga que a probabilidade de ocorrer algo similar é elevada, pois não levam em conta os inúmeros casos de fracassos que não foram noticiados. Esta contradição gerada pelo viés da representatividade e a dura realidade de sobrevivência pode ter impactos severos na saúde mental dos empreendedores."
Pesquisa atualizada em abril de 2015, realizada por Michael A. Freeman, da Universidade da California São Francisco e colegas da UC Berkeley, sob o título "Are Entrepreneurs touched with fire"? que contou com a participação de 242 empreendedores apontou que 72% dos empreendedores são afetados direta ou indiretamente por problemas de saúde mental, sendo que o grupo não empreendedor utilizado na comparação, apresentou um percentual bem inferior, 48%.
Exceto a ansiedade que é presente no mesmo percentual em ambos os grupos, os empreendedores lideraram em relatos de depressão (30% versus 15% dos não empreendedores), déficit de atenção (29% versus 5% dos não empreendedores) e doença bipolar (11% versus 1% dos não empreendedores).
Richard Rytenband explica que é importante começar a abordar com mais transparência o tema, "É essencial discutir sobre a importância de cuidar da saúde emocional dos profissionais. O que não possível, é prosseguir pressionando os jovens a empreender, sem avançar no preparo da parte mental, e isso não se refere a replicar características tidas como padrões entre os bem sucedidos, mas sim em como não negligenciar a própria saúde e a felicidade em troca de um sucesso futuro, que pode nunca chegar", destaca.